Quando o final de ano se aproxima, a criançada da nossa cidade já sabe: é época de pegar a bicicleta e correr pro fileirão.
Situado a menos de um quilômetro da cidade e com mangueiras a se perder de vista, o lugar ocupa uma página especial na cultura e na história cravinhense, um espaço para se sentir a energia produzida por tanta mangueiras juntas.
Segue abaixo uma poesia de cordel feito pela cultura popular de Cravinhos, que conta sobre a lenda da origem de local tão abençoado. Boa leitura e bom apetite com as mangas!
A
história do fileirão
Por: Zé Preto
Negro, escravo, com fome
Pra sobreviver
Manga foi comer
Mas apareceu um home.
Porrada, tapas, pontatés.
Resultado desastroso
Ato horroroso
Típicos dos coronés
O neguinho foi pro céu.
Já não tava mais nessa vida louca
Aqui, tristeza nunca foi pouca
E ainda morreu como réu.
O coroné da porrada, da indecência,
Jogou o corpo no neguinho no matagal
E ficou admirando sua mangueira no quintal
É noite! Peso na consciência.
Coroné acordo suado
Sua muié ao vê o véio assim
Disse: “que se fez com o neguim?”
E ouviu: “seu corpo está enterrado.”
360 noites de perturbação
Deixaram o véio coroné
Um trapo em pé
Nem mais deitava no colchão.
Um dia, bêbado de sono, o matador
Viu uma assombração...
Era o neguinho, agora um negão
Que vinha sanar a sua dor.
“O senhô vai pranta manga pra todo nego
E pra todo branco tamém
Por que senão eu chamo o povo do além
E a tormenta será tão grande que eu te carrego
Pros quinto do inferno, se é que o satanás
Aceita o senhô naquele lugar
Onde quem mata vai morar
Ainda mais quando se compras”
O coroné de tanto medo
Daquela aparição,
Pensou que era maldição
E acordou cedo.
Mando o pessoal planta mais de mil
Pés de mangas enfileirados
Pra todos os danados
Como nunca se viu.
E depois de tantos anos, com emoção,
É possível chupar manga abençoada
Pros veios e pra mulecada
Lá no fileirão.
3 comentários:
Muito bom...
Ainda existe esse lugar?
Sim existe
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